Atualmente o
desenvolvimento das drogas denominadas alvo-moleculares transformou o
tratamento de neoplasias trazendo resultados mais eficazes, duradouros e com
menores efeitos colaterais.
A descoberta das
alterações moleculares que levam ao desenvolvimento e progressão dos diversos
tipos de câncer mostrou que existem diferentes tipos de tumores em um mesmo
órgão e muitas similaridades entre tumores de diferentes orgãos.
Alterações de expressão de
genes podem ser similares entre tumores de pulmão, cabeça e pescoço e em
melanomas cutâneos, por exemplo. Esse conhecimento levou ao desenvolvimento de
drogas-alvo específicas para esses eventos moleculares que podem ser comuns a
diversos tipos de tumores.
Um desses exemplos são os
novos anticorpos que restauram a capacidade do sistema imune em reconhecer
células tumorais e promover uma reação de combate as mesmas.
São muitas as drogas já no
mercado com essa capacidade e outras em fase avançada de estudo clínico
demonstrando grande atividade no controle de neoplasias.
Um das peculiaridades
desses novos tratamentos é que são efetivos em tumores que apresentam
alterações nessas vias moleculares específicas, que devem ser reconhecidas
antes de se iniciar o tratamento para evitar possíveis efeitos colaterais e
gastos financeiros desnecessários naqueles indivíduos que não se beneficiriam
dessa droga.
Para se ter uma idéia do
custo financeiro, considerando que a Organização Mundial da Saúde estima a
ocorrência de aproximadamente 1,8 milhões de casos de câncer de pulmão
anualmente sendo grande parte deles já em estado avançado com necessidade de
tratamento sistêmico, o custo para o tratamento de todos os pacientes desse
tipo específico de câncer seria de mais de 140 milhões de euros.
Esse novo fenômeno trouxe
um novo papel ao patologista cirúrgico. Esse especialista que tem como função
reconhecer e classificar os tumores fornecendo informações fundamentais para a
tomada de conduta no tratamento oncológico, agora tem um papel ainda mais
relevante na identificação de pacientes que podem ser tratados com essas novas
drogas.
Esse processo mostra a
mudança no comportamento de instituições que se dedicam ao tratamento do câncer
que têm valorizado ainda mais o papel do patologista que entra como um
protagonista nos grupos interdisciplinares garantindo que o melhor esquema de
tratamento seja oferecido para os pacientes individualmente.
Essa realidade pode ser
observada nos congressos acadêmicos onde há um grande espaço ocupado para a discussão
da metodologia e avaliação desses novos marcadores. Recentemente, durante o
106º congresso da academia americana e canadense de patologia (USCAP) realizado
em San Antonio, TX, uma grande proporção dos trabalhos apresentados se dedicou
ao tema. Com a presença de mais de 5000 patologistas de 87 diferentes países o
Brasil teve grande participação mostrando o interesse da especialidade pelos
novos caminhos da oncologia, reconhecendo o seu papel dentro desse processo.
Estamos vivendo uma era de
transformação no tratamento do câncer onde os pacientes são cada vez mais
individualizados para que sejam tratados da maneira mais eficiente e menos
agressiva por um grupo de especialistas que deve trabalhar de modo harmonioso
para que o resultado seja o sucesso.
Dra. Katia R M Leite
Vice-presidente para Assuntos Acadêmicos da SBP