Há três tipos principais
de câncer de pele: o mais comum, o carcinoma basocelular, corresponde aproximadamente
a 71,4% dos tumores malignos da pele; o carcinoma espinocelular corresponde a
21,7% dos casos, e o melanoma representa 4% - apesar da menor incidência, este
último merece atenção especial.
O melanoma é o mais agressivo e com maior índice de mortalidade, se
diagnosticado tardiamente. Por exemplo, se um melanoma tiver quatro milímetros
de espessura quando diagnosticado, o paciente terá sobrevida em cinco anos de
aproximadamente 54%, ou seja, 46% dos pacientes morrerão de disseminação da
doença. Além de mais agressivo, seu diagnóstico é frequentemente retardado por desconhecimento,
por dificuldades diagnósticas, ou mesmo por falta de prevenção secundária
(ações que procuram diagnosticar precocemente a doença já estabelecida). “Os
tipos de doenças de pele mais difíceis de serem descobertos são os melanomas e
seus subtipos, por causa de sua semelhança com as lesões benignas,
especialmente quando iniciais”.
Tecnologia
Os avanços tecnológicos
tornaram-se importante ferramenta para a detecção precoce da doença. A
utilização da dermatoscopia, espécie de lente de aumento semelhante à usada
para observar o ouvido, aumentou a precisão diagnóstica do melanoma. Esse método,
em associação à digitalização das imagens, tem permitido monitorar lesões suspeitas
que, reavaliadas num curto intervalo de tempo, podem crescer e permitir que o
médico confirme a necessidade de retirada e avaliação por exame
anatomopatológico.
Outra tecnologia com
desenvolvimento constante, ainda timidamente utilizada no Brasil, é o uso da
microscopia confocal in vivo, que possibilita,
através de raios laser, o exame de lesões com resolução de microscópio. Nesse
caso, é possível examinar o paciente com uma alta precisão para indicar se a
lesão deve ou não ser retirada”, ressalta o médico. Esta técnica tem permitido
também, em casos selecionados, demarcar as margens cirúrgicas para assegurar
que toda a lesão foi retirada.
Além do exame
anatomopatológico, que permite identificar o tipo de tumor e estabelecer parâmetros
prognósticos, técnicas moleculares, incluindo sequenciamento gênico,
identificação de mutações através de Hibridização In Situ Fluorescente (FISH), de Hibridização Genômica Comparativa
(CGH) e também técnicas de proteômica, por meio de espectrometria de massa tem
surgido como forma de classificar e determinar até o tipo de tratamento mais
adequado ao paciente, uma forma de personalização da medicina, dando a cada
indivíduo, a melhor opção terapêutica para aquele tipo de tumor.
Fatores
de risco
As lesões na pele têm como
fator predisponente a exposição à luz ultravioleta A e B, em especial em
pessoas muito claras que se queimam e nunca se bronzeiam. Por outro lado, há
famílias com propensão ao desenvolvimento de melanomas. Cerca de 10% dos
pacientes diagnosticados com melanoma têm histórico familiar desse tipo de
tumor. Nesses casos, é importante a avaliação com o especialista denominado
oncogeneticista, que estabelecerá se é mesmo câncer hereditário e qual a
probabilidade de desenvolvimento da doença.
A ascendência e o tipo de
pele também podem mostrar se a pessoa tem mais probabilidade de desenvolver a
doença. Pessoas muito claras, com
cabelos claros, olhos claros, portadoras de sardas e que se queimam com
facilidade e dificilmente se bronzeiam são mais suscetíveis ao desenvolvimento
do câncer de pele. Além disso, pessoas com muitas pintas (nevos) têm maior
probabilidade de desenvolvimento de melanoma.
Em nosso meio, devido à
grande miscigenação racial, os traços afrodescendentes e asiáticos estão presentes
em parte considerável da população brasileira. Há um tipo de melanoma que
ocorre com maior frequência nestas etnias, o melanoma acral, que ocorre nas
plantas, palmas e unhas. Serviços públicos que atendem populações carentes,
muitos de ascendência africana, têm encontrado uma maior frequência deste tipo
de melanoma. Em Salvador e em Manaus, sua frequência respectiva é de 19% e 30%
de melanomas acrais. Este dado indica a necessidade de não só pensar em
melanomas induzidos pela radiação solar, mas também fazer campanhas de
prevenção secundária para a observação de mãos e pés, frequentemente
negligenciados. Afinal, além de caucasianos, os traços afrodescendentes e
asiáticos, também são uma marca da população brasileira.
Dr. Gilles Landman –
Professor Escola Paulista de Medicina