Nos textos
anteriores conhecemos Paula, uma mulher de 42 anos que descobriu um nódulo em um de seus
seios durante o autoexame em conjunto com a mamografia de rotina. Após buscar ajuda médica, ela passou por uma série de exames,
incluindo a biópsia, para a retirada de
uma amostra do nódulo. Esse fragmento de tecido passou por diversos processos químicos
para ser preservado e preparado para a análise de um médico patologista, o
profissional do diagnóstico. Agora, é a hora da verdade.
Depois de sua extensa busca na
internet sobre Patologia, Paula sabia que, se fosse confirmada a presença do
tumor na biópsia, o especialista iria listar todas as características deste tumor para auxiliar no entendimento
de sua agressividade. No laudo anatomopatológico emitido deveria constar se há
ou não algum tumor na mama, seja ele benigno ou maligno (carcinoma) e quais as
características microscópicas deste.
Mais do que isso, esse laudo informaria características
importantes como tipo do tumor, o grau histológico (que estima o grau de
similaridade com as células normais da mama e auxilia na medida da
agressividade), a presença ou não de invasão dos vasos linfáticos e sanguíneos,
a invasão de linfonodos da axila pelo tumor e até mesmo se esse nódulo expressa
proteínas como os receptores hormonais de estrógeno e progesterona, além da
proteína HER2.
Diante desta lista extensa de características do tumor e de
outros dados clínicos, como a idade e a existência ou não de outras doenças
crônicas, o oncologista pode determinar qual a combinação de tratamentos é mais
adequada para a paciente. Com esses dados, ele poderia decidir se o
câncer de mama pode ser tratado com cirurgia e uma complementação de
radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e terapia anti-HER2.
Isso é fundamental porque nem todas as pacientes receberão
todas estas modalidades e a combinação final vai depender do que foi observado
no tumor. Pacientes com tumores pequenos, localizados apenas na mama, com
poucos sinais de agressividade biológica ao microscópico e com expressão de
receptores hormonais, podem ser poupadas da quimioterapia, mas se beneficiam da
hormonioterapia. Pacientes com expressão forte da proteína HER2 devem
utilizar a terapia anti-Her2 para reduzir o risco de recorrência da doença.
Pacientes com tumores negativos para receptores hormonais e proteína HER2
em geral necessitam de quimioterapia. A correta avaliação destas
proteínas depende de amostras bem preservadas, adequadamente fixadas. Em suma,
o combate ao câncer parte de um bom trabalho do patologista.
Depois de alguns dias, Paula recebeu a ligação do laboratório
informando que seu laudo estava disponível para a retirada. Ela teve que juntar
todo seu autocontrole para evitar “espiar” o resultado e buscar auxílio no “Dr.
Google”. No dia seguinte, com o laudo em mãos, ela retornou ao médico para sua
consulta, ainda mais nervosa e apreensiva. Após a abertura do laudo, o médico
começou a ler as informações e pôde transmitir o diagnóstico a Paula. Ela tinha
um carcinoma tubular, um tipo de câncer.
Antes mesmo
de o médico ter tempo de explicar a doença, Paula já começou a chorar e a fazer
perguntas. Ela queria saber de tudo, se iria morrer, se precisaria retirar seu
seio e se perderia seus cabelos no tratamento. Por mais que já tivesse
pesquisado sobre a Patologia e as etapas que
passaria a biópsia e os possíveis diagnósticos,
ela ficou muito assustada com o resultado.
Antes de
responder todos esses questionamentos, o médico explicou a ela que carcinoma tubular é um subtipo
de câncer de mama de comportamento menos agressivo, sem a necessidade de
quimioterapia e retirada total da mama e que a maioria das pacientes com diagnóstico como o dela ficam
curadas. Estas informações a deixaram mais aliviada.
Na
biópsia, o médico patologista submeteu o tumor de Paula a um estudo chamado
imunohistoquímica, que utiliza anticorpos para localizar proteínas específicas
nas células. O tumor de Paula mostrou positividade para receptores hormonais de
estrógeno e progesterona, ambos hormônios sexuais femininos. O mesmo estudo
mostrou que o tumor proliferava a uma taxa bem baixa e que foi descoberto precocemente graças ao autoexame, com
poucas probabilidades de originar metástases.
A partir de agora, com as informações do laudo em
conjunto com os exames radiológicos que havia sido feito antes, seria definido
o plano de tratamento adequado para Paula. O médico optou pela realização da
cirurgia para a retirada do tumor e apenas uma região da mama, sem a
necessidade da retirada da mama inteira.
Em poucos dias, foi
realizada a cirurgia e o nódulo retirado foi novamente examinado pelo médico
patologista, que confirmou o diagnóstico de carcinoma tubular e identificou que
os gânglios linfáticos da região axilar não apresentavam metástases. Graças a
todos os dados fornecidos pelo exame anatomopatológico, Paula não necessitou
realizar quimioterapia, complementou seu tratamento somente com radioterapia e
um medicamento que inibe os hormônios femininos, em virtude do resultado que
havia sido encontrado. Ela seguiu com o acompanhamento médico até o fim do
tratamento, quando foi considerada curada.
A história de Paula é fictícia, mas situações como esta
ocorrem com milhares de pacientes diariamente no Brasil e no mundo. Em todas
elas, o médico patologista e o exame anatomopatológico têm um papel fundamental
no diagnóstico e na definição dos tratamentos do câncer e de várias outras
doenças.
Fontes:
Dr. Victor Piana de Andrade – patologista, diretor médico do A.C.
Camargo Cancer Center e coordenador do PICQ da SBP.
Dr. Felipe D'Almeida – patologista e secretário da SBP.